terça-feira, 31 de maio de 2016

Remando contra a Maré


Como exemplo de tantos outros, o Conselheiro Rodrigues Alves desde a meninice frequentou a antiga Corte Imperial do Rio de Janeiro, ainda nos tempos do Colégio Pedro II, antes do ingresso no Curso de Direito no Largo São Francisco, em São Paulo. Portanto, conhecedor do ambiente tropical carioca, com seus casarios coloniais e pequenas casas de cortiço espalhadas costa acima dos morros da Ajuda e de Santo Antônio. Como ambiente propício para o aparecimento de inúmeras doenças, principalmente ligadas ao universo higiênico desfavorável no miolo central urbano. Fato testemunhado e repudiado historicamente pela Rainha Carlota Joaquina já no começo do século XIX.
Assim, inúmeras foram as vitimas das terríveis doenças e da pouca atenção que se dava aos novos preceitos científicos da medicina no tratamento das diversas patologias causadoras de uma forte incidência de óbitos. Além dos hábitos e costumes pouco recomendados, como dejetos pessoais que os escravos despejam em determinados locais da cidade, determinantes para manter uma cidade nada limpa. E Rodrigues Alves também foi vítima direta e indireta da situação caótica no Rio de Janeiro em fins do século XIX e começo do XX. 
Ainda como Ministro da Fazenda, no governo republicano de Prudente de Moraes, Rodrigues Alves perdeu uma filha em tenra idade para uma dessas doenças incidentes no Rio de Janeiro. Abrindo sua mente para a difícil tarefa, caso um dia fosse eleito, de sanear a cidade, Como fizera anteriormente, quando no Governo de São Paulo lançou um sério programa de combate a essas doenças. 
Ao ser lançado candidato pela presidência da República, ele foi enfático ao dizer que as principais metas do seu governo seriam o saneamento da Capital Federal e o melhoramento do Porto do Rio de Janeiro. Isso porque, entre tantas outras, a febre amarela e a peste bubônica grassavam por todos os recantos desde o inicio da segunda metade do século XIX.  
Mas quando assumiu o cargo, em 1902, sofreu terrível oposição política do Congresso Nacional e da imprensa carioca quanto as medidas pretendidas e que estariam logo sendo implantadas pelos principais ministros que escolheu para capitanear os trabalhos, entre eles, o médico sanitarista Oswaldo Cruz, responsável pela higienização do Rio de Janeiro. 
Ambos, em 1904, foram por essas medidas e concretizações, notadamente a Vacinação Obrigatória para toda a população, alvo preferido do cartunistas e desenhistas dos mais diversos órgãos jornalísticos. A vacina era vista como agressão ao corpo, uma atitude imoral a macular a alma do individuo. O que resultou na famosa Revolta da Vacina.
O desenho acima detalha um pouco daquele momento enfrentado pelo estadista e pelo renomado médico. 
Com o título de "um calhambeque malsinado", a charge mostra, num rio de sangue (vermelho), Rodrigues Alves ao leme do barco, simbolizando a lei da vacinação obrigatória, e Oswaldo Cruz tentando remar diante das dificuldades e a oposição ao cumprimento do plano e da lei, representadas pela correntes e o cadeado presos a duas árvores, que significam as emendas que haviam sido propostas pelo Congresso Nacional. E como em outras ocasiões, Rodrigues Alves em caricatura de dorminhoco, em trajes de dormir, marcando fama que vinha desde o começo da República. 
O calhambeque malsinado seria a causa perdida dos planos do Conselheiro. O que não aconteceu. 

Fonte e Imagem: FALCÃO, Edgard de Cerqueira. Oswaldo Cruz. Monumenta Histórica. São Paulo: Brasiliensia Documenta, 1971.